17 set

Distúrbios Respiratórios do Sono: o que diz o novo consenso brasileiro

 

Introdução

O sono não é apenas um momento de descanso: é um processo ativo, fundamental para a memória, o aprendizado, a saúde cardiovascular e o equilíbrio metabólico. Quando a respiração é interrompida durante a noite, surgem os distúrbios respiratórios do sono (DRS), condições que comprometem diretamente a qualidade de vida.

O mais frequente é a Apneia Obstrutiva do Sono (AOS), caracterizada por repetidas pausas respiratórias que levam à fragmentação do sono e à queda de oxigênio no sangue. O novo consenso da Sociedade Brasileira de Pneumologia atualizou os conhecimentos sobre o tema, abordando diagnóstico, riscos e estratégias de tratamento.


 

Prevalência e impacto

Estudos internacionais apontam que quase 1 bilhão de pessoas sofrem de AOS em todo o mundo. No Brasil, estima-se que 49 milhões de adultos tenham índice de apneia-hipopneia (IAH) ≥ 5, e cerca de 25 milhões apresentem casos moderados a graves.

Os números impressionam, mas o impacto vai além da quantidade de diagnósticos. A doença está diretamente ligada a custos elevados para o sistema de saúde, perda de produtividade no trabalho e até aumento de acidentes de trânsito.


 

Sinais e sintomas

A apneia obstrutiva do sono pode passar despercebida por anos. Entre os principais sinais de alerta estão:

  • Ronco alto e frequente;

  • Pausas respiratórias observadas por parceiros de quarto;

  • Sonolência diurna excessiva;

  • Cefaleia matinal;

  • Dificuldade de memória e concentração;

  • Irritabilidade e alterações de humor.

Em idosos, os sintomas podem se confundir com quadros de depressão ou declínio cognitivo, dificultando o diagnóstico.


 

Consequências clínicas

Deixar a apneia sem tratamento pode trazer graves repercussões:

  • Cardiovasculares: aumento do risco de hipertensão resistente, arritmias, infarto e AVC.

  • Metabólicas: maior chance de desenvolver diabetes tipo 2 e síndrome metabólica.

  • Neurocognitivas: prejuízos na atenção, memória e aprendizado, além de associação com depressão e ansiedade.

  • Acidentes: motoristas com AOS têm risco significativamente maior de envolvimento em acidentes automobilísticos.

A combinação de apneia e insônia, conhecida como COMISA (comorbid insomnia and sleep apnea), é particularmente grave, reduzindo a adesão ao tratamento e aumentando a mortalidade.


 

Diagnóstico

O padrão-ouro é a polissonografia (PSG tipo 1) em laboratório. Esse exame avalia diversos parâmetros, como fluxo de ar, saturação de oxigênio, movimentos corporais e atividade cerebral.

Para pacientes de alto risco, exames simplificados (PSG tipo 3) podem ser realizados em casa, aumentando o acesso ao diagnóstico.

Além disso, questionários como STOP-Bang, Epworth e Berlin ajudam na triagem inicial, mas não substituem a avaliação objetiva.


 

Tratamento

O manejo da apneia depende da gravidade do caso e do perfil do paciente. Entre as opções estão:

  • Mudanças de estilo de vida: perda de peso, redução do consumo de álcool e sono em posição lateral.

  • CPAP (Continuous Positive Airway Pressure): tratamento de primeira linha para casos moderados e graves. O aparelho mantém as vias aéreas abertas durante o sono, prevenindo as pausas respiratórias.

  • Aparelhos intraorais: indicados para casos leves a moderados, reposicionam a mandíbula e facilitam a passagem do ar.

  • Cirurgias: em casos selecionados, como hipertrofia de amígdalas ou anomalias craniofaciais.

Um dos grandes desafios é a adesão ao CPAP. Estudos mostram que muitos pacientes abandonam o uso nas primeiras semanas. O consenso destaca que telemonitoramento e acompanhamento próximo aumentam significativamente as taxas de sucesso.


 

Aspectos pediátricos

As crianças também podem ser afetadas pelos distúrbios respiratórios do sono. O principal fator é a hipertrofia das amígdalas e adenoides, que bloqueiam parcialmente a respiração noturna.

Sintomas comuns em crianças incluem:

  • Ronco frequente;

  • Sono agitado;

  • Déficit de atenção e hiperatividade;

  • Queda no desempenho escolar.

O diagnóstico precoce é essencial para evitar prejuízos no crescimento e no desenvolvimento cognitivo. O tratamento pode envolver cirurgia otorrinolaringológica ou, em casos selecionados, uso de CPAP.


 

Importância do diagnóstico precoce

Quanto mais cedo a apneia é identificada, maiores as chances de prevenir complicações. A atenção deve ser redobrada em grupos de risco, como:

  • Pessoas com obesidade;

  • Indivíduos com histórico familiar de apneia;

  • Pacientes com doenças cardiovasculares;

  • Crianças com ronco habitual.


 

Conclusão

O novo consenso da Sociedade Brasileira de Pneumologia reforça que os distúrbios respiratórios do sono são um problema de saúde pública. O diagnóstico e o tratamento adequados têm impacto direto na qualidade de vida e na prevenção de doenças graves.

👉 A Clínica de Neurologia e Sono de Maringá está preparada para avaliar e acompanhar pacientes de todas as idades. Se você ou alguém próximo apresenta sinais de apneia do sono, agende uma consulta com nosso especialista.

 

Referência

Duarte RLM, Magalhães-da-Silveira FJ, Genta PR, Drager LF, Andersen ML, Cintra FD, et al. Brazilian Thoracic Association Consensus on Sleep-Disordered Breathing. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2022;48(4):e20220106.
Disponível em: https://doi.org/10.36416/1806-3756/e20220106.
Licença: CC-BY-NC 4.0.