Distúrbios Respiratórios do Sono: o que diz o novo consenso brasileiro
Introdução
O sono não é apenas um momento de descanso: é um processo ativo, fundamental para a memória, o aprendizado, a saúde cardiovascular e o equilíbrio metabólico. Quando a respiração é interrompida durante a noite, surgem os distúrbios respiratórios do sono (DRS), condições que comprometem diretamente a qualidade de vida.
O mais frequente é a Apneia Obstrutiva do Sono (AOS), caracterizada por repetidas pausas respiratórias que levam à fragmentação do sono e à queda de oxigênio no sangue. O novo consenso da Sociedade Brasileira de Pneumologia atualizou os conhecimentos sobre o tema, abordando diagnóstico, riscos e estratégias de tratamento.
Prevalência e impacto
Estudos internacionais apontam que quase 1 bilhão de pessoas sofrem de AOS em todo o mundo. No Brasil, estima-se que 49 milhões de adultos tenham índice de apneia-hipopneia (IAH) ≥ 5, e cerca de 25 milhões apresentem casos moderados a graves.
Os números impressionam, mas o impacto vai além da quantidade de diagnósticos. A doença está diretamente ligada a custos elevados para o sistema de saúde, perda de produtividade no trabalho e até aumento de acidentes de trânsito.
Sinais e sintomas
A apneia obstrutiva do sono pode passar despercebida por anos. Entre os principais sinais de alerta estão:
Ronco alto e frequente;
Pausas respiratórias observadas por parceiros de quarto;
Sonolência diurna excessiva;
Cefaleia matinal;
Dificuldade de memória e concentração;
Irritabilidade e alterações de humor.
Em idosos, os sintomas podem se confundir com quadros de depressão ou declínio cognitivo, dificultando o diagnóstico.
Consequências clínicas
Deixar a apneia sem tratamento pode trazer graves repercussões:
Cardiovasculares: aumento do risco de hipertensão resistente, arritmias, infarto e AVC.
Metabólicas: maior chance de desenvolver diabetes tipo 2 e síndrome metabólica.
Neurocognitivas: prejuízos na atenção, memória e aprendizado, além de associação com depressão e ansiedade.
Acidentes: motoristas com AOS têm risco significativamente maior de envolvimento em acidentes automobilísticos.
A combinação de apneia e insônia, conhecida como COMISA (comorbid insomnia and sleep apnea), é particularmente grave, reduzindo a adesão ao tratamento e aumentando a mortalidade.
Diagnóstico
O padrão-ouro é a polissonografia (PSG tipo 1) em laboratório. Esse exame avalia diversos parâmetros, como fluxo de ar, saturação de oxigênio, movimentos corporais e atividade cerebral.
Para pacientes de alto risco, exames simplificados (PSG tipo 3) podem ser realizados em casa, aumentando o acesso ao diagnóstico.
Além disso, questionários como STOP-Bang, Epworth e Berlin ajudam na triagem inicial, mas não substituem a avaliação objetiva.
Tratamento
O manejo da apneia depende da gravidade do caso e do perfil do paciente. Entre as opções estão:
Mudanças de estilo de vida: perda de peso, redução do consumo de álcool e sono em posição lateral.
CPAP (Continuous Positive Airway Pressure): tratamento de primeira linha para casos moderados e graves. O aparelho mantém as vias aéreas abertas durante o sono, prevenindo as pausas respiratórias.
Aparelhos intraorais: indicados para casos leves a moderados, reposicionam a mandíbula e facilitam a passagem do ar.
Cirurgias: em casos selecionados, como hipertrofia de amígdalas ou anomalias craniofaciais.
Um dos grandes desafios é a adesão ao CPAP. Estudos mostram que muitos pacientes abandonam o uso nas primeiras semanas. O consenso destaca que telemonitoramento e acompanhamento próximo aumentam significativamente as taxas de sucesso.
Aspectos pediátricos
As crianças também podem ser afetadas pelos distúrbios respiratórios do sono. O principal fator é a hipertrofia das amígdalas e adenoides, que bloqueiam parcialmente a respiração noturna.
Sintomas comuns em crianças incluem:
Ronco frequente;
Sono agitado;
Déficit de atenção e hiperatividade;
Queda no desempenho escolar.
O diagnóstico precoce é essencial para evitar prejuízos no crescimento e no desenvolvimento cognitivo. O tratamento pode envolver cirurgia otorrinolaringológica ou, em casos selecionados, uso de CPAP.
Importância do diagnóstico precoce
Quanto mais cedo a apneia é identificada, maiores as chances de prevenir complicações. A atenção deve ser redobrada em grupos de risco, como:
Pessoas com obesidade;
Indivíduos com histórico familiar de apneia;
Pacientes com doenças cardiovasculares;
Crianças com ronco habitual.
Conclusão
O novo consenso da Sociedade Brasileira de Pneumologia reforça que os distúrbios respiratórios do sono são um problema de saúde pública. O diagnóstico e o tratamento adequados têm impacto direto na qualidade de vida e na prevenção de doenças graves.
👉 A Clínica de Neurologia e Sono de Maringá está preparada para avaliar e acompanhar pacientes de todas as idades. Se você ou alguém próximo apresenta sinais de apneia do sono, agende uma consulta com nosso especialista.
Referência
Duarte RLM, Magalhães-da-Silveira FJ, Genta PR, Drager LF, Andersen ML, Cintra FD, et al. Brazilian Thoracic Association Consensus on Sleep-Disordered Breathing. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2022;48(4):e20220106.
Disponível em: https://doi.org/10.36416/1806-3756/e20220106.
Licença: CC-BY-NC 4.0.