CPAP: Tecnologia Respiratória Essencial no Tratamento da Apneia do Sono
1. Introdução
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é uma das doenças crônicas mais prevalentes no mundo moderno, atingindo quase 1 bilhão de pessoas globalmente. No Brasil, milhões convivem com ronco, pausas respiratórias e sonolência diurna, muitas vezes sem diagnóstico.
Entre os diversos tratamentos, o CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) é considerado a terapia de primeira linha para casos moderados e graves (Duarte et al., 2022), de acordo com o novo consenso da Sociedade Brasileira de Pneumologia. Reconhecido mundialmente, o CPAP não apenas melhora o sono, mas salva vidas e previne complicações cardiovasculares e metabólicas.
2. O que é e como funciona o CPAP
O CPAP é um dispositivo portátil composto por três elementos principais:
Gerador de fluxo de ar: produz pressão positiva contínua.
Tubo flexível: conduz o ar até o paciente.
Máscara nasal, oronasal ou de almofadas: mantém as vias aéreas abertas.
O objetivo é simples e eficaz: impedir o colapso das vias aéreas superiores durante o sono, eliminando apneias e hipopneias. Isso garante ventilação adequada, reduz despertares, melhora a oxigenação e restaura a arquitetura normal do sono.
3. Tipos de CPAP e Interfaces
A seleção do tipo de CPAP deve considerar critérios clínicos específicos, definidos a partir do diagnóstico e da gravidade da apneia obstrutiva do sono. A indicação médica é determinante não apenas para definir se o paciente usará um CPAP fixo ou automático, mas também para estabelecer parâmetros de pressão, recursos tecnológicos complementares e interfaces de uso. Essa personalização assegura maior eficácia terapêutica e adesão ao tratamento.
Atualmente, o mercado oferece dois tipos principais de CPAP: o modelo fixo, também chamado de básico, e o modelo de pressão automática, conforme diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia (Duarte et al., 2022). A escolha entre eles deve ser feita a partir do diagnóstico do paciente e da indicação médica. Em muitos casos, o especialista já define não apenas o tipo de aparelho, mas também os recursos tecnológicos e parâmetros que o dispositivo precisa ter para garantir a eficácia do tratamento. A seguir, vamos compreender melhor as diferenças entre cada um.
CPAP Fixo: pressão constante, definida após titulação.
Auto-CPAP: regula automaticamente a pressão dentro de uma faixa programada.
BiPAP: dois níveis de pressão (inspiração e expiração), indicado em casos complexos, como hipoventilação.
Interfaces disponíveis:
As interfaces disponíveis permitem maior adaptação ao perfil do paciente:
Máscara nasal → a mais utilizada em adultos.
Máscara oronasal → indicada para respiradores orais.
Almofadas nasais → leves, úteis em pacientes com claustrofobia.
4. Benefícios Comprovados do CPAP
Sono
Reduz despertares e melhora a eficiência do sono.
Elimina ou reduz o ronco.
Aumenta o tempo em sono profundo e reparador.
Saúde cardiovascular
Reduz pressão arterial, inclusive em hipertensão resistente.
Diminui risco de arritmias, infarto e AVC.
Metabolismo
Melhora resistência à insulina.
Auxilia no controle do diabetes tipo 2.
Reduz marcadores inflamatórios da síndrome metabólica.
Cognição e humor
Melhora memória, atenção e concentração.
Reduz sintomas de depressão e ansiedade.
Aumenta disposição e energia diurna.
Segurança
Diminui sonolência diurna excessiva.
Reduz significativamente o risco de acidentes de trânsito e ocupacionais.
5. Uso por Faixa Etária
Crianças
Indicado em casos de apneia associada a hipertrofia adenotonsilar, obesidade ou malformações craniofaciais. Exige acompanhamento familiar e adaptação gradual.
Adultos
Atinge maior prevalência. O CPAP melhora sintomas, saúde metabólica e reduz riscos cardiovasculares. Exige monitoramento constante da adesão.
Idosos
Comorbidades cardiovasculares são comuns. A titulação precisa da pressão garante conforto e eficácia. Benefícios incluem melhor desempenho cognitivo e vitalidade.
6. Riscos do Uso e da Não Adesão
Riscos do uso
Irritação na pele pela máscara.
Ressecamento nasal ou oral.
Aerofagia e desconforto abdominal.
Claustrofobia em alguns casos.
Infecções leves por má higienização.
Riscos da não adesão
Persistência da sonolência e maior risco de acidentes.
Agravamento de hipertensão, arritmias e doenças cardíacas.
Descontrole do diabetes e síndrome metabólica.
Déficits cognitivos e risco aumentado de demência em idosos.
Maior risco de mortalidade precoce por causas cardiovasculares.
7. Aderência ao CPAP: Desafios e Estratégias
Principais barreiras: desconforto da máscara, ruído, ressecamento, claustrofobia. Estudos mostram que até 50% dos pacientes interrompem o uso nas primeiras semanas.
Estratégias de sucesso:
Escolha personalizada da máscara.
Uso de umidificador acoplado.
Acompanhamento médico contínuo.
Telemonitoramento remoto do uso.
Educação clara sobre riscos e benefícios.
8. Aferição e Calibração
A eficácia depende da correta aferição e calibração:
Aferição: confirma se a pressão programada é a mesma entregue pelo aparelho.
Calibração (titulação): ajuste fino realizado em polissonografia.
CPAP fixo → define valor único de pressão.
Auto-CPAP → define faixa mínima e máxima para autorregulação.
Deve ser reavaliada periodicamente, especialmente após mudanças de peso, novas comorbidades ou retorno de sintomas.
9. Manutenção e Assistência Técnica
Cuidados essenciais:
Higienização regular de máscara, tubos e reservatório.
Troca de filtros segundo recomendações do fabricante.
Revisões preventivas periódicas.
Onde buscar suporte:
Assistências técnicas autorizadas.
Clínicas do sono e laboratórios especializados.
Fornecedores de equipamentos médicos com convênios técnicos.
Reparos caseiros não são recomendados, pois comprometem a segurança do tratamento.
10. Outras Opções de Tratamento
Em casos em que o CPAP não é tolerado ou não é suficiente:
Aparelhos intraorais que avançam a mandíbula.
Cirurgias para correção de alterações anatômicas.
Terapia posicional, para casos em que a apneia ocorre apenas ao dormir de barriga para cima.
Ainda assim, para casos moderados e graves, nenhum tratamento é tão eficaz quanto o CPAP.
11. Exemplos Práticos
Motorista profissional: risco até sete vezes maior de acidentes sem tratamento. Com CPAP, sonolência reduzida e mais segurança no trânsito.
Paciente hipertenso: pressão arterial resistente a medicamentos que se estabiliza após uso contínuo do CPAP.
12. Conclusão
O CPAP é mais do que um dispositivo: é um divisor de águas no tratamento da apneia do sono. Melhora o sono, protege o coração, regula o metabolismo e preserva a função cognitiva.
Seu sucesso, no entanto, depende da adesão contínua, da aferição regular e do acompanhamento especializado. Na Clínica de Neurologia e Sono de Maringá, oferecemos suporte integral para adaptação ao CPAP, desde a escolha da máscara até o telemonitoramento, garantindo que cada paciente alcance o máximo benefício da terapia.
📌 Referência formatada
Duarte RLM, Togeiro SMGP, Palombini LO, Rizzatti FPG, Fagondes SC, Magalhães-da-Silveira FJ, et al. Brazilian Thoracic Association Consensus on Sleep-Disordered Breathing. J Bras Pneumol. 2022;48(4):e20220106.
https://doi.org/10.36416/1806-3756/e20220106