17 set

CPAP: Tecnologia Respiratória Essencial no Tratamento da Apneia do Sono

 

1. Introdução

A apneia obstrutiva do sono (AOS) é uma das doenças crônicas mais prevalentes no mundo moderno, atingindo quase 1 bilhão de pessoas globalmente. No Brasil, milhões convivem com ronco, pausas respiratórias e sonolência diurna, muitas vezes sem diagnóstico.

Entre os diversos tratamentos, o CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) é considerado a terapia de primeira linha para casos moderados e graves (Duarte et al., 2022), de acordo com o novo consenso da Sociedade Brasileira de Pneumologia. Reconhecido mundialmente, o CPAP não apenas melhora o sono, mas salva vidas e previne complicações cardiovasculares e metabólicas.


 

2. O que é e como funciona o CPAP

O CPAP é um dispositivo portátil composto por três elementos principais:

  • Gerador de fluxo de ar: produz pressão positiva contínua.

  • Tubo flexível: conduz o ar até o paciente.

  • Máscara nasal, oronasal ou de almofadas: mantém as vias aéreas abertas.

O objetivo é simples e eficaz: impedir o colapso das vias aéreas superiores durante o sono, eliminando apneias e hipopneias. Isso garante ventilação adequada, reduz despertares, melhora a oxigenação e restaura a arquitetura normal do sono.


 

3. Tipos de CPAP e Interfaces

A seleção do tipo de CPAP deve considerar critérios clínicos específicos, definidos a partir do diagnóstico e da gravidade da apneia obstrutiva do sono. A indicação médica é determinante não apenas para definir se o paciente usará um CPAP fixo ou automático, mas também para estabelecer parâmetros de pressão, recursos tecnológicos complementares e interfaces de uso. Essa personalização assegura maior eficácia terapêutica e adesão ao tratamento.

Atualmente, o mercado oferece dois tipos principais de CPAP: o modelo fixo, também chamado de básico, e o modelo de pressão automática, conforme diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia (Duarte et al., 2022). A escolha entre eles deve ser feita a partir do diagnóstico do paciente e da indicação médica. Em muitos casos, o especialista já define não apenas o tipo de aparelho, mas também os recursos tecnológicos e parâmetros que o dispositivo precisa ter para garantir a eficácia do tratamento. A seguir, vamos compreender melhor as diferenças entre cada um.

  • CPAP Fixo: pressão constante, definida após titulação.

  • Auto-CPAP: regula automaticamente a pressão dentro de uma faixa programada.

  • BiPAP: dois níveis de pressão (inspiração e expiração), indicado em casos complexos, como hipoventilação.

Interfaces disponíveis:

As interfaces disponíveis permitem maior adaptação ao perfil do paciente:

  • Máscara nasal → a mais utilizada em adultos.

  • Máscara oronasal → indicada para respiradores orais.

  • Almofadas nasais → leves, úteis em pacientes com claustrofobia.


 

4. Benefícios Comprovados do CPAP

Sono

  • Reduz despertares e melhora a eficiência do sono.

  • Elimina ou reduz o ronco.

  • Aumenta o tempo em sono profundo e reparador.

Saúde cardiovascular

  • Reduz pressão arterial, inclusive em hipertensão resistente.

  • Diminui risco de arritmias, infarto e AVC.

Metabolismo

  • Melhora resistência à insulina.

  • Auxilia no controle do diabetes tipo 2.

  • Reduz marcadores inflamatórios da síndrome metabólica.

Cognição e humor

  • Melhora memória, atenção e concentração.

  • Reduz sintomas de depressão e ansiedade.

  • Aumenta disposição e energia diurna.

Segurança

  • Diminui sonolência diurna excessiva.

  • Reduz significativamente o risco de acidentes de trânsito e ocupacionais.


 

5. Uso por Faixa Etária

Crianças

Indicado em casos de apneia associada a hipertrofia adenotonsilar, obesidade ou malformações craniofaciais. Exige acompanhamento familiar e adaptação gradual.

Adultos

Atinge maior prevalência. O CPAP melhora sintomas, saúde metabólica e reduz riscos cardiovasculares. Exige monitoramento constante da adesão.

Idosos

Comorbidades cardiovasculares são comuns. A titulação precisa da pressão garante conforto e eficácia. Benefícios incluem melhor desempenho cognitivo e vitalidade.


6. Riscos do Uso e da Não Adesão

Riscos do uso

  • Irritação na pele pela máscara.

  • Ressecamento nasal ou oral.

  • Aerofagia e desconforto abdominal.

  • Claustrofobia em alguns casos.

  • Infecções leves por má higienização.

Riscos da não adesão

  • Persistência da sonolência e maior risco de acidentes.

  • Agravamento de hipertensão, arritmias e doenças cardíacas.

  • Descontrole do diabetes e síndrome metabólica.

  • Déficits cognitivos e risco aumentado de demência em idosos.

  • Maior risco de mortalidade precoce por causas cardiovasculares.


 

7. Aderência ao CPAP: Desafios e Estratégias

Principais barreiras: desconforto da máscara, ruído, ressecamento, claustrofobia. Estudos mostram que até 50% dos pacientes interrompem o uso nas primeiras semanas.

Estratégias de sucesso:

  • Escolha personalizada da máscara.

  • Uso de umidificador acoplado.

  • Acompanhamento médico contínuo.

  • Telemonitoramento remoto do uso.

  • Educação clara sobre riscos e benefícios.


 

8. Aferição e Calibração

A eficácia depende da correta aferição e calibração:

  • Aferição: confirma se a pressão programada é a mesma entregue pelo aparelho.

  • Calibração (titulação): ajuste fino realizado em polissonografia.

    • CPAP fixo → define valor único de pressão.

    • Auto-CPAP → define faixa mínima e máxima para autorregulação.

  • Deve ser reavaliada periodicamente, especialmente após mudanças de peso, novas comorbidades ou retorno de sintomas.


 

9. Manutenção e Assistência Técnica

Cuidados essenciais:

  • Higienização regular de máscara, tubos e reservatório.

  • Troca de filtros segundo recomendações do fabricante.

  • Revisões preventivas periódicas.

Onde buscar suporte:

  • Assistências técnicas autorizadas.

  • Clínicas do sono e laboratórios especializados.

  • Fornecedores de equipamentos médicos com convênios técnicos.

Reparos caseiros não são recomendados, pois comprometem a segurança do tratamento.


 

10. Outras Opções de Tratamento

Em casos em que o CPAP não é tolerado ou não é suficiente:

  • Aparelhos intraorais que avançam a mandíbula.

  • Cirurgias para correção de alterações anatômicas.

  • Terapia posicional, para casos em que a apneia ocorre apenas ao dormir de barriga para cima.

Ainda assim, para casos moderados e graves, nenhum tratamento é tão eficaz quanto o CPAP.


 

11. Exemplos Práticos

  • Motorista profissional: risco até sete vezes maior de acidentes sem tratamento. Com CPAP, sonolência reduzida e mais segurança no trânsito.

  • Paciente hipertenso: pressão arterial resistente a medicamentos que se estabiliza após uso contínuo do CPAP.


 

12. Conclusão

O CPAP é mais do que um dispositivo: é um divisor de águas no tratamento da apneia do sono. Melhora o sono, protege o coração, regula o metabolismo e preserva a função cognitiva.

Seu sucesso, no entanto, depende da adesão contínua, da aferição regular e do acompanhamento especializado. Na Clínica de Neurologia e Sono de Maringá, oferecemos suporte integral para adaptação ao CPAP, desde a escolha da máscara até o telemonitoramento, garantindo que cada paciente alcance o máximo benefício da terapia.

📌 Referência formatada

Duarte RLM, Togeiro SMGP, Palombini LO, Rizzatti FPG, Fagondes SC, Magalhães-da-Silveira FJ, et al. Brazilian Thoracic Association Consensus on Sleep-Disordered Breathing. J Bras Pneumol. 2022;48(4):e20220106.
https://doi.org/10.36416/1806-3756/e20220106