29 set

🧠 Relação entre o sono, o humor e as dores de cabeça – O que a neurologia explica

Baseado no artigo:
Sousa-Santos PEM, Peres MFP. Practical issues in the management of sleep, anxiety, and mood disorders in primary headaches. Arq Neuropsiquiatr (2025). DOI: 10.1055/s-0045-1809881


Quando a dor de cabeça não vem sozinha

A dor de cabeça é uma das queixas neurológicas mais comuns, e nas cefaleias primárias — como enxaqueca, cefaleia tensional e cefaleia em salvas — ela costuma vir acompanhada de outros sintomas: ansiedade, alterações do humor e distúrbios do sono.
Esse conjunto é tão frequente que os pesquisadores o denominam MAMS, sigla para Migraine, Anxiety, Mood and Sleep.

Essas condições se interligam em um ciclo vicioso: o sono ruim agrava a dor e o humor, a ansiedade intensifica a percepção da dor e a dor aumenta o estresse e o cansaço. O resultado é um quadro clínico mais complexo e debilitante.


Diagnóstico: olhar além da dor

Identificar a presença de transtornos de sono, ansiedade e humor em pacientes com cefaleia é essencial para um tratamento eficaz.
O estudo destaca o uso de instrumentos simples de triagem — como o GAD-7 (ansiedade), BDI (depressão), ISI (insônia) e Escala de Sonolência de Epworth — que podem orientar o manejo inicial e indicar quando encaminhar o paciente a especialistas.

Além disso, o texto reforça que nem toda dor de cabeça exige exames de imagem: é preciso avaliar sinais de alerta, evitando exposições desnecessárias e custos elevados.


Mecanismos em comum

As condições do espectro MAMS compartilham mecanismos fisiopatológicos semelhantes, envolvendo neurotransmissores como serotonina, dopamina, GABA e glutamato, além de hormônios como a melatonina e o CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina).
Esses sistemas explicam por que muitos medicamentos — como antidepressivos tricíclicos, ISRSs e moduladores do sono — podem agir simultaneamente sobre dor, sono e humor.


Melatonina em destaque

A melatonina ganha papel central no tratamento das cefaleias associadas a distúrbios do sono.
Pesquisas demonstram que ela pode reduzir a frequência das crises de enxaqueca, melhorar o padrão de sono e apresentar menos efeitos adversos que antidepressivos comumente usados para prevenção, como a amitriptilina.

Além de regular o ciclo circadiano, a melatonina parece atuar diretamente no hipotálamo, região envolvida tanto na regulação do sono quanto na modulação da dor.


Tratamento integrado

O manejo eficaz do MAMS deve combinar:

  • Educação do paciente sobre a relação entre dor, sono e estresse;

  • Higiene do sono, com horários regulares e ambiente adequado;

  • Exercício físico e técnicas de relaxamento (mindfulness, ioga, meditação);

  • Acompanhamento psicológico ou terapia cognitivo-comportamental;

  • Tratamento medicamentoso personalizado, considerando comorbidades e possíveis interações.

O objetivo é romper o ciclo dor–sono–ansiedade, promovendo qualidade de vida e melhora funcional.


Conclusão

Tratar apenas a dor de cabeça é tratar o sintoma, não o problema.
Cuidar do sono, da ansiedade e do humor é parte essencial da neurologia moderna.
Como reforçam os autores, a abordagem integrada oferece melhores resultados e maior adesão — especialmente quando o paciente compreende o impacto do seu estilo de vida sobre a saúde cerebral.

Na Clínica de Neurologia e Sono de Maringá, avaliamos de forma integrada o sono, o humor e os fatores emocionais que influenciam as cefaleias.
Agende uma consulta e descubra como um tratamento personalizado pode melhorar sua qualidade de vida e reduzir a frequência das dores de cabeça.

 

📌 Referência formatada

Sousa-Santos PEM, Peres MFP. Practical issues in the management of sleep, anxiety, and mood disorders in primary headaches. Arq Neuropsiquiatr (2025). DOI: 10.1055/s-0045-1809881