🧠 Como a Doença de Huntington Afeta o Sono e o Ritmo Circadiano
Uma nova visão científica sobre o papel do sono na progressão dos sintomas neurológicos
A Doença de Huntington (DH) é tradicionalmente reconhecida por seus sintomas motores característicos — movimentos involuntários, alterações de equilíbrio e perda de coordenação — acompanhados por mudanças cognitivas e comportamentais significativas. No entanto, pesquisas recentes têm mostrado que o impacto da doença vai muito além desses sinais clássicos.
Um estudo robusto publicado em 2025 na plataforma Frontiers in Neurology trouxe uma perspectiva essencial: distúrbios do sono e do ritmo circadiano não são apenas consequências tardias da Doença de Huntington — eles podem estar presentes muito antes dos sintomas motores apareçam e influenciar a progressão neurológica ao longo dos anos.
Essa descoberta amplia a forma como médicos, famílias e pacientes devem entender a doença e reforça a importância de olhar para o sono como parte fundamental do cuidado.
🌙 A relação entre Huntington e Sono: muito mais do que cansaço
O sono é um dos reguladores mais poderosos do equilíbrio físico, emocional e cognitivo. Em condições neurodegenerativas, ele desempenha um papel ainda mais central.
O estudo analisou vários trabalhos científicos e observou que, em pacientes com Doença de Huntington, o ciclo biológico interno — também chamado de ritmo circadiano — sofre alterações profundas, afetando praticamente todos os sistemas do organismo. Isso inclui:
os horários de sono e vigília;
a estrutura interna do sono (REM e não-REM);
a capacidade do cérebro de sincronizar informações biológicas com o ambiente;
e até funções emocionais, comportamentais e cognitivas.
O corpo perde sua referência temporal interna.
Como consequência, pacientes podem experimentar desde insônia e sonolência excessiva até mudanças importantes no humor, na atenção e no controle emocional.
🧠 O Cérebro perde seu “Marcapasso Biológico”
No centro do nosso relógio interno está o núcleo supraquiasmático (NSQ), localizado no hipotálamo. Ele funciona como um maestro: recebe informações de luz e ambiente, organiza ciclos hormonais, marca o início e o fim do sono, controla a temperatura corporal e sincroniza funções vitais.
O estudo da Frontiers in Neurology mostra que, na Doença de Huntington, o NSQ sofre alterações estruturais e químicas importantes.
Isso significa que:
os neurônios responsáveis por marcar o ritmo biológico começam a falhar;
sinais químicos que regulam o ciclo vigília-sono diminuem;
o relógio interno deixa de responder adequadamente à luz do dia;
e o cérebro perde gradualmente sua capacidade de “dizer” ao corpo quando descansar e quando estar ativo.
O resultado é uma sensação contínua de desalinhamento interno, semelhante a viver em um estado permanente de jet lag, mesmo sem viajar ou mudar de fuso horário.
🌙 Alterações na Arquitetura do Sono
Além do ritmo circadiano, o estudo também demonstra que a estrutura interna do sono — composta por estágios leves, sono profundo (N3) e sono REM — sofre modificações significativas.
Pacientes com Huntington podem apresentar:
redução importante do sono REM, essencial para memória e emoções;
fragmentação frequente do sono profundo, responsável pela restauração física e cognitiva;
despertares múltiplos ao longo da noite;
dificuldade para manter ciclos constantes durante a semana.
Essas alterações se tornam um ciclo vicioso: quanto pior a qualidade do sono, mais intensos podem ser os sintomas cognitivos e comportamentais — e, quanto mais avançada a doença, maior o impacto sobre o sono.
🧬 Impactos Comportamentais e Cognitivos
O estudo destaca que distúrbios do sono podem acelerar ou intensificar sintomas que normalmente aparecem em fases intermediárias da doença, tais como:
irritabilidade e impulsividade;
apatia emocional;
variações abruptas de humor;
dificuldade de concentração;
perda de memória recente;
desorganização mental;
piora de sintomas depressivos.
Esses sinais não devem ser vistos apenas como características da doença em si, mas também como respostas diretas ao desequilíbrio dos sistemas biológicos que regulam o sono e o comportamento.
🩺 Por que esse achado muda a forma de cuidar?
A grande contribuição do estudo é reforçar que o sono deve ser parte estruturante do acompanhamento clínico na Doença de Huntington, e não um sintoma secundário.
Quando os distúrbios do sono são identificados e tratados precocemente, é possível:
melhorar a qualidade de vida;
reduzir irritabilidade, ansiedade e impulsividade;
aumentar a estabilidade emocional;
favorecer memória e atenção;
melhorar o funcionamento diurno;
criar rotinas mais previsíveis para o paciente e a família.
Intervenções simples — como horários regulares, manejo de luz, ajustes no ambiente, higiene do sono e revisão medicamentosa — podem fazer diferença real no dia a dia.
🏥 O Olhar da Clínica de Neurologia e Distúrbios do Sono de Maringá
Na prática clínica, o reforçamos que a saúde do sono é um dos pilares mais negligenciados, mas também um dos mais poderosos para o bem-estar em doenças neurológicas.
Em condições como Huntington, Parkinson, Alzheimer, epilepsia e insônia crônica, cuidar dos ritmos biológicos e da arquitetura do sono não é apenas uma questão de conforto — é uma intervenção terapêutica com impacto direto no comportamento, na cognição, na estabilidade emocional e na qualidade de vida.
A clínica integra avaliações de sono, neurocomportamento e rotina circadiana para apoiar pacientes e famílias de maneira multidimensional.
📚 Referência
Frontiers in Neurology.
Dysfunctions of sleep and the circadian rhythm in Huntington’s disease.
Frontiers in Neurology,
2025.
DOI não informado pela publicação.
Acesse o artigo completo em:
https://www.frontiersin.org/journals/neurology/articles/10.3389/fneur.2025.1693307/full
💭 Reflexão Final
As evidências mostram que o sono não é apenas um sintoma secundário na Doença de Huntington — ele é parte fundamental do processo neurológico que molda comportamento, emoções, cognição e qualidade de vida. Compreender as alterações do ritmo circadiano permite reconhecer sinais precoces, melhorar o cuidado diário e promover mais estabilidade ao paciente e à família.
Na Clínica de Neurologia e Distúrbios do Sono de Maringá, avaliamos o sono como um pilar essencial da saúde cerebral. Com abordagem especializada e integrada, auxiliamos você e sua família a compreender essas mudanças e a buscar intervenções que realmente melhoram a vida em cada fase da doença. Clique no botão abaixo e agende sua consulta com nosso neurologista especialista.