🧠 Os 5 tipos de sono e o que eles revelam sobre o funcionamento do cérebro

Dormir bem é muito mais do que descansar o corpo — é restaurar as conexões que sustentam a memória, o humor e a saúde mental.
Recentemente, um estudo publicado na revista científica PLOS Biology identificou cinco perfis de sono, cada um com padrões neurais distintos e impactos específicos sobre a cognição e o bem-estar.
Essa descoberta muda a forma como compreendemos o sono: não basta contar horas dormidas — é preciso entender como o cérebro se comporta enquanto dormimos.

1. O estudo

Pesquisadores da Universidade de Cambridge e colaboradores analisaram 770 adultos saudáveis, entre 22 e 36 anos, utilizando dados comportamentais, de saúde e de neuroimagem funcional (fMRI).
O objetivo era compreender como diferentes aspectos do sono — como duração, qualidade, uso de medicação e interrupções — se combinam com fatores psicológicos e cognitivos.

A partir dessa análise, os cientistas identificaram cinco perfis biopsicossociais de sono, cada um associado a uma “assinatura neural” única, ou seja, a um padrão específico de conectividade entre as redes cerebrais durante o repouso.

2. Os cinco perfis de sono

O estudo descreve com detalhes os seguintes grupos:

💤 2.1. Sono de má qualidade e psicopatologia

Pessoas com baixa qualidade de sono e sintomas mais intensos de ansiedade, depressão e instabilidade emocional.
As imagens mostraram forte conectividade entre as redes de atenção e sensorimotoras — indicando hipervigilância mesmo durante o descanso, o que reduz a recuperação cerebral.

🌙 2.2. Resiliência ao sono

Indivíduos que relataram sono de má qualidade, mas mantêm bom desempenho cognitivo e emocional.
Esse perfil demonstra que o cérebro pode desenvolver mecanismos de compensação, preservando o equilíbrio mental apesar de distúrbios leves de sono.

💊 2.3. Sono com uso de medicações

Aqui, o sono depende de substâncias para induzir ou manter o repouso.
O estudo encontrou correlação com alterações em redes de sociabilidade e processamento visual, sugerindo que a regulação artificial do sono altera circuitos naturais de recuperação neural.

⏰ 2.4. Sono curto e pior desempenho cognitivo

Participantes que dormiam menos de 6 a 7 horas apresentaram redução na eficiência cognitiva, com prejuízos na memória, atenção e velocidade de processamento.
As redes cerebrais mostraram menor sincronização — o cérebro literalmente “trabalha desconectado”.

🌩️ 2.5. Sono fragmentado com distúrbios

Padrão caracterizado por múltiplos despertares noturnos, apneia ou movimentos involuntários.
Esse grupo teve os piores índices cognitivos e emocionais, além de conectividade cerebral desorganizada, o que indica interrupção na consolidação das memórias e na regulação emocional.

3. O que isso significa para a saúde cerebral

Esses resultados reforçam que o sono é multifatorial.
Não se trata apenas de “dormir mais”, mas de dormir com qualidade, respeitando os ciclos naturais e evitando fatores que fragmentam o repouso — como estresse, luz azul excessiva, álcool ou automedicação.

Cada tipo de sono reflete um equilíbrio (ou desequilíbrio) entre corpo, mente e estilo de vida.
E compreender o seu padrão individual é essencial para prevenir distúrbios cognitivos, emocionais e metabólicos.

4. Avaliação clínica e diagnóstico

Na prática médica, identificar o perfil de sono de um paciente exige avaliação especializada, que pode incluir:

• Polissonografia (exame do sono completo);

• Monitoramento de apneia e movimentos periódicos;

• Questionários de qualidade do sono (PSQI, ESS, entre outros);

• Avaliação de humor e cognição.

Com base nesses dados, é possível definir se o problema é primário (como insônia ou apneia) ou secundário (associado a ansiedade, depressão, dor crônica, etc.) — e indicar o tratamento mais adequado.

5. Conclusão

Dormir é um processo ativo e dinâmico — o cérebro trabalha intensamente enquanto descansamos.
Os cinco perfis identificados pelos pesquisadores ajudam a compreender por que duas pessoas podem dormir o mesmo número de horas e, ainda assim, acordar com níveis de energia completamente diferentes.

Na Clínica de Neurologia e Distúrbios do Sono de Maringá, avaliamos cada paciente de forma personalizada, integrando dados clínicos, comportamentais e tecnológicos para compreender o perfil de sono e promover melhor desempenho cerebral e qualidade de vida.