19 maio

Transtornos Cognitivos

 

1. Introdução

Os transtornos cognitivos representam um conjunto de alterações que afetam a capacidade de pensar, lembrar, comunicar e realizar tarefas do dia a dia. Entre as causas mais frequentes estão as demências, como a Doença de Alzheimer, que impactam não apenas o paciente, mas também toda a rede familiar. O diagnóstico precoce e a abordagem multidisciplinar são fundamentais para oferecer qualidade de vida e suporte adequado diante desses desafios.

 

2. O Que São Transtornos Cognitivos?

Os transtornos cognitivos não afetam apenas o funcionamento do cérebro, mas impactam diretamente a vida social, emocional e funcional de quem os vivencia. Envolvem alterações nas funções cerebrais superiores, como atenção, memória, linguagem, funções executivas e compreensão.

Essas alterações podem ser causadas por processos degenerativos (como o Alzheimer), lesões vasculares, traumatismos cranianos, infecções, depressão e outras condições médicas.

Demência é um subtipo de transtorno cognitivo caracterizado pela perda progressiva, irreversível e funcional de múltiplas habilidades cognitivas. Já as alterações cognitivas leves podem ser transitórias ou estáveis, muitas vezes sinalizando o início de uma demência, mas ainda sem grande impacto nas atividades diárias.

É importante destacar que nem toda alteração de memória indica demência: existem causas reversíveis e temporárias de comprometimento cognitivo que, quando tratadas, podem recuperar parcialmente ou totalmente as funções afetadas.

 

3. Principais Tipos de Demência

As demências afetam milhões de pessoas em todo o mundo, com a Doença de Alzheimer representando cerca de 60% a 80% dos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Abaixo, os tipos mais frequentes:

  • Doença de Alzheimer: Forma mais comum, com perda de memória recente como sintoma inicial;
  • Demência Vascular: Relacionada a lesões causadas por AVCs ou isquemias cerebrais;
  • Demência com Corpos de Lewy: Associada a alucinações e sintomas motores semelhantes ao Parkinson;
  • Demência Frontotemporal: Afeta principalmente comportamento, personalidade e linguagem;
  • Demência Mista: Combinação de dois ou mais tipos, como Alzheimer com demência vascular.

 

4. Sinais de Alerta para a Família

A família é, muitas vezes, a primeira a perceber que algo mudou. Ficar atento aos sinais pode fazer a diferença no diagnóstico precoce. Os principais sinais incluem:

  • Esquecimentos frequentes que atrapalham a rotina
  • Dificuldade para encontrar palavras ou se comunicar
  • Troca de objetos de lugar ou perda constante de itens
  • Desorientação em ambientes familiares
  • Mudanças de humor, apatia ou comportamento inadequado
  • Dificuldade para realizar tarefas simples, como pagar contas ou preparar refeições

 

5. Avaliação Clínica e Diagnóstico

Um diagnóstico preciso depende de uma avaliação clínica cuidadosa, associada ao uso de exames complementares.

5.1 Avaliação Cognitiva

Aplicação de testes neuropsicológicos padronizados para medir atenção, memória, linguagem e raciocínio. Os mais utilizados são o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e a Avaliação Montreal da Cognição (MoCA).

5.2 Avaliação Funcional

Investiga a capacidade do paciente de realizar atividades da vida diária (AVD – Atividades da Vida Diária e AIVD – Atividades Instrumentais da Vida Diária).

5.3 Avaliação Comportamental e Psiquiátrica

Identifica sintomas como agitação, depressão, apatia, alucinações e alterações de personalidade.

 

6. Exames de Apoio ao Diagnóstico

  • Ressonância magnética ou tomografia de crânio: Identifica atrofias, lesões vasculares ou massas. Deve ser solicitada conforme indicação médica;
  • Exames laboratoriais: Avaliação de função tireoidiana, níveis de vitamina B12, sífilis, HIV, entre outros;
  • Exames de líquor (em casos selecionados): Investigação de causas infecciosas ou neurodegenerativas;
  • PET cerebral com marcador de amiloide (em centros especializados): Auxilia na confirmação diagnóstica de Alzheimer em casos mais complexos.

 

7. Manejo e Suporte Terapêutico

O tratamento dos transtornos cognitivos é multidimensional e visa retardar a progressão, aliviar sintomas e preservar ao máximo a funcionalidade e qualidade de vida do paciente.

7.1 Tratamento Medicamentoso
  • Inibidores da colinesterase: donepezila, rivastigmina e galantamina, utilizados no Alzheimer e em alguns outros tipos de demência.
  • Memantina: recomendada para estágios moderados a graves.
  • Medicamentos adjuvantes: antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor, conforme avaliação individualizada.

 

8. Terapias Não Medicamentosas

  • Estimulação cognitiva: Atividades que buscam manter ou melhorar as funções cerebrais, como jogos de memória, leitura e exercícios mentais.
  • Fisioterapia e terapia ocupacional: Para preservação da mobilidade, independência e prevenção de quedas.
  • Fonoaudiologia: Auxilia na comunicação e na deglutição, especialmente em estágios avançados.
  • Acompanhamento psicológico: Fundamental para o paciente e seus familiares enfrentarem as mudanças emocionais e comportamentais.

 

9. Apoio e Orientação Familiar

A família desempenha um papel essencial no cuidado da pessoa com transtornos cognitivos. A sobrecarga emocional e física dos cuidadores deve ser reconhecida, acolhida e acompanhada.

 

10. Orientações Fundamentais à Família

  • Criar rotinas previsíveis e seguras para o paciente
  • Adaptar o ambiente doméstico para prevenir acidentes
  • Promover atividades simples, prazerosas e significativas
  • Procurar grupos de apoio e orientação especializada
  • Cuidar da própria saúde física e emocional do cuidador
  • Evitar conflitos e correções excessivas, valorizando a empatia e o respeito ao ritmo do paciente
  • Estimular a comunicação respeitosa, com paciência e escuta ativa

 

11. Importância do Diagnóstico Precoce

O diagnóstico precoce permite o planejamento de cuidados futuros, a introdução oportuna de tratamentos e intervenções, e proporciona à família tempo para adaptação. Estudos mostram que a intervenção precoce pode retardar em até dois anos a progressão dos sintomas, o que se traduz em mais autonomia e qualidade de vida para o paciente.

 

12. Conclusão

Os transtornos cognitivos são desafios complexos que exigem sensibilidade, conhecimento técnico e suporte contínuo. Mais do que uma condição médica, envolvem relações humanas, adaptação e cuidado. A atuação integrada entre neurologista, equipe multiprofissional e familiares é essencial para garantir um cuidado digno, centrado na pessoa e respeitoso com sua história de vida.

Se você tem dúvidas sobre mudanças de memória ou comportamento em alguém da sua família, procure orientação especializada. A Clínica de Neurologia e Distúrbios do Sono de Maringá oferece avaliação neurológica completa, exames precisos e suporte terapêutico qualificado para cuidar de quem você ama com atenção e responsabilidade.

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